IMPRENSA É ESTILINGUE, AUTORIDADE É VIDRAÇA - Por Belmiro Deusdete

Em sua coluna da semana, o radialista e jornalista reflete de forma cirúrgica sobre a relação entre a imprensa e o Poder Público, sobretudo em Alagoinhas


A imprensa é uma instituição essencial que conecta as pessoas às informações necessárias para a defesa da sociedade e a cobrança de decisões responsáveis por parte das autoridades governamentais.

Em bom português, a imprensa é o estilingue e a autoridade é a vidraça.

A exemplo do futebol, não tem como a imprensa cobrar o escanteio e correr para a área para cabecear. Impossível.

Por essa razão, não se pode conceber a convivência maléfica da imprensa de Alagoinhas com o poder constituído.

A situação é tão preocupante que tivemos, no ano passado, a divulgação de uma lista de pagamentos da prefeitura para dezenas de pessoas, físicas e jurídicas, ligadas à imprensa, sem contestação de ambas as partes.

A prefeitura, como elo imprescindível da representatividade democrática, jamais deveria adotar ou aceitar o patrocínio de uma mesada para a imprensa.

Estamos no país das bolsas, porém a “Bolsa Imprensa” é uma medida inaceitável.

É preciso que os empresários das emissoras comerciais da cidade — Cacau Pena, Antônio Lomes e Barretinho Góes —, além dos responsáveis por outras ferramentas de comunicação, atentem para o funcionamento da mídia dentro dos princípios da ética e da responsabilidade social e ajudem a inibir essa situação. Os anunciantes também.

Na prática, Alagoinhas está muito atrasada em relação ao mercado publicitário.

A maioria pensa que propaganda é favor, quando, na verdade, se trata de uma das ferramentas mais caras e necessárias para o crescimento das empresas e da própria economia.

A democracia não pode conviver com a invasão da imprensa por parte de pessoas que buscam cobertura para seus interesses pessoais ou políticos. Temos, em nossa cidade, uma mistura perigosa entre imprensa e vida pública.

Pessoas que exercem funções e cargos públicos estão usando microfones em atividades correlatas com suas posições. Em dezembro do ano passado, o comunicador Vanderley Soares foi vítima dessa dupla posição, atingido por um fato de pequena monta. Para completar, já temos até propaganda de políticos militantes, políticos de mandato, como dizem nos meios populares.

É o dinheiro público usado para enaltecer a imagem de figuras públicas. Para que se entenda o risco social dessa situação, é vedada a propaganda de pessoas físicas, imagine a de figuras públicas.

Toda atividade tem suas regras e sua ética. Fazer imprensa não pode ser o ganha-pão de ninguém. A imprensa lida com verdade, isenção e independência. Tem compromisso direto com a sociedade e a democracia.

Seus empresários e seus profissionais são recompensados através do mercado publicitário, por sinal, muito forte e consistente no país, nele incluído o próprio poder público através de suas inserções institucionais — nunca propaganda de entidades públicas e seus gestores.

Não sabemos como está se comportando, ou vai se comportar, o atual governo municipal chefiado por Gustavo Carmo, por sinal, filho de Judélio Carmo, um jornalista ético que governou a cidade em duas oportunidades e que soube separar o joio do trigo.

Para completar, o prefeito Gustavo Carmo foi secretário de Comunicação e deve conhecer a situação de perto, além de ter ao seu lado Álvaro Muller, jornalista experiente, de quem se espera uma contribuição importante para ajustar o município aos grandes desafios do seu crescimento.

O comportamento da nossa imprensa na última campanha eleitoral foi vergonhoso, decepcionante. Esperamos que as coisas mudem com a instalação do novo governo, em benefício do próprio desenvolvimento de Alagoinhas, por sinal, cidade-polo do Território de Identidade Litoral Norte e Agreste Baiano.


Belmiro Deusdete é radialista e jornalista em Alagoinhas-BA.

2 Comentários

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Parabéns, mestre Belmiro, disse em algumas linhas o que não consegui dizer em várias delas. Isto é um belo texto, elegante, direto, claro, objetivo e indignado na medida certa. A situação da "imprensa" local é gravíssima e vexatória. Pouco jornalismo, muita bajulação. Os erros são cometidos conscientemente e não há disposição alguma para mudança. Que Gustavo e Álvaro retirem a mordaça que vai acompanhada da verba publicitária. Muito obrigado, meu amigo, por esta defesa da nossa profissão. Tomara que este artigo seja lido na Câmara, este merece esta repercussão e reflexão no meio político.

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