COMO O GOVERNO BAIANO DESPREZA A TECNOLOGIA AGROPECUÁRIA - Por Geraldo Almeida

Em sua coluna nesta semana, o autor aborda sobre a questão da degradação do setor agropecuário na Bahia e suas consequências para o desenvolvimento do estado

Antiga sede central da EBDA. Hoje sede da Polícia Civil.


Circulou esta semana na Internet um vídeo denunciando o total estado de abandono e depredação do centro de treinamento da antiga EBDA, localizado anexo ao Parque de Exposições de Salvador. O local virou também um cemitério de tratores, ônibus escolares e outros equipamentos, novos e seminovos, conforme foi denunciado no ano passado por um deputado estadual.

As imagens são chocantes quando se vê uma grande área que comportou um estacionamento amplo e até um campo de futebol, totalmente tomada pelo mato. O centro possuía um auditório, diversas salas de aula, biblioteca, refeitório e 32 apartamentos para hospedar os alunos participantes de cursos, oriundos da Bahia e do Norte e Nordeste, hoje em estado de total abandono e degradação.

Como ex-servidor da EBDA, que frequentou aquele centro para participar de seminários, reuniões de programação da empresa, cursos etc., não poderia ter outro sentimento que não o de indignação ante uma atitude que posso dizer criminosa dos governantes, por incúria na preservação e manutenção de um patrimônio público de alto valor, construído com verbas de um banco internacional de desenvolvimento.

Se houvesse um mínimo de bom senso dos governantes responsáveis, não querendo eles valorizar as atualizações tecnológicas da agropecuária que o CETREINO propiciava, poderiam ter transformado-o em um espaço para oficinas de profissionalização de jovens dos bairros adjacentes.

Sede do que foi o CETREINO-Centro de Treinamento da EBDA.
Após denúncias de abandono o governo transformou
 em alojamento da Polícia Militar


Mas engana-se quem pensa que a sanha destruidora contra a estrutura de apoio à transferência de tecnologias agropecuárias limitou-se ao fato acima mencionado. Em paralelo ao fechamento da Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola, veio o fechamento e o abandono de diversas estações experimentais, que funcionavam plenamente em Alagoinhas (apoio à fruticultura); Aramari (pesquisas com búfalos e gado Girolando); Itaberaba e Feira de Santana (pesquisas com gado Gir leiteiro, Guzerá e Nelore); Estação do Cerrado-Barreiras, que muito contribuiu para tornar o oeste baiano um dos maiores polos de agricultura do país, etc.

Anexos às estações experimentais, existiam os centros regionais de treinamento voltados para a capacitação de agricultores familiares, com ótima estrutura para hospedar os treinandos durante todo o período de um módulo. O centro da EBDA em Aramari, por exemplo, era reconhecido por sua excelência na ministração do curso denominado “Do pasto ao queijo”, quando pequenos criadores se atualizavam sobre a formação de pastagens, inseminação artificial em vacas, alimentação e sanidade do rebanho e, no último módulo, a industrialização caseira do leite em queijo e iogurte.

Toda essa rede, que representava forte contribuição à modernização agrícola do estado, foi extinta por uma política agrícola equivocada e tendenciosa dos governadores petistas. A débâcle iniciou-se com Jaques Wagner, foi intensificada com Rui Costa e mantida por Jerônimo Rodrigues.

Agora informo a parte mais maldosa dessa tragédia: com o corte de recursos para a manutenção das estações experimentais, os pesquisadores, professores dos centros de treinamento e demais funcionários tiveram que abandonar as unidades, sendo que quase todas elas foram invadidas por grupos do MST, que encontraram à sua disposição trabalhos científicos de décadas, mobiliário, centenas de animais de alta qualidade genética, amplas áreas de pastagens, tratores e implementos etc.

Algum chefe de estação experimental que ainda tentou resistir e mobilizar a Polícia Militar para expulsar os invasores foi dissuadido de fazê-lo, porque havia “ordem de cima” para não mexer com os sem-terra. Quem quiser comprovar o que foi acima exposto, é só fazer uma visita à estação de Aramari, conhecida como Fazenda do Governo, à Fazenda Mocó, em Feira de Santana, etc. Pelo que eu soube, nada foi preservado, porque o MST costuma usar predatoriamente o que encontra até vender, numa espécie de parasitismo.

Quem produz no campo, fora da bolha da agricultura familiar, é alvo de um aparente ódio do PT. Na Bahia, a EBDA foi extinta porque seus técnicos não agiam politicamente e tratavam igualmente agricultores familiares, pequenos, médios e grandes produtores rurais. Eles tinham como foco transferir as tecnologias possíveis, visando melhorar a produtividade das culturas e criações.

Isso não interessava aos novos donos do poder, cujo interesse era 'esquerdizar' o campo por meio da cooptação de lideranças de agricultores familiares e de ONGs rurais (sindicatos, cooperativas e associações), por meio da transferência de recursos financeiros para tais entidades, o que vem ocorrendo. Embora o processo seja acessível a qualquer entidade, via chamadas públicas, as restrições impostas sempre favorecem o lado que é mais amigo do governo.

Esse modelo adotado pelo governo estadual, via CAR – Companhia de Ação e Desenvolvimento Regional – e via Secretaria de Desenvolvimento Rural, favorece ações coletivas de beneficiamento e comercialização de produtos da agricultura familiar, mas é inócuo para melhorar a produtividade dos agricultores familiares, porque a assistência técnica individual ou grupal ficou relegada a um plano secundário, o que só não é pior por causa da atuação do SENAR.

A Bahia se tornou um dos poucos estados do Brasil cujo governo isentou-se de oferecer uma assistência técnica efetiva aos produtores rurais e deixou de promover a pesquisa agropecuária, o que nos coloca na incômoda posição de buscar resultados de pesquisas de outros estados e adaptá-los às nossas condições de clima e solo. Lamentável!


O autor é engenheiro agrônomo, ex-gerente regional da EBDA, ex-secretário executivo da Câmara Setorial da Citricultura da Bahia e escreve semanalmente para este portal.

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