Leia a coluna da semana do ilustre Geraldo Almeida
Li recentemente, em um grupo de conterrâneos no WhatsApp, uma crônica de uma senhora que versa sobre seu desencanto com o Papai Noel, devido a um trauma de infância.
Havia em nossa cidade um cidadão que, sempre no período natalino, vestia-se como o bom velhinho e saía pelas ruas distribuindo brinquedos às crianças. Contudo, ela não entendia por que, em sua casa, ele não passava, preferindo entregar presentes justamente às crianças vizinhas, menos necessitadas. Ela, menina pobre, nunca era contemplada. Anos mais tarde, já entendendo coisas que a inocência infantil não percebia, soube que o comerciante Zilmar, proprietário de uma loja de confecções e brinquedos, entre outros itens, se encarregava de alimentar a fantasia dos filhos de famílias abastadas. Os pais compravam os brinquedos, e ele anotava os endereços para fazer as entregas fantasiado de Santa Klaus (nome nórdico de Papai Noel).
Como ela desejou ter uma boneca grandona da Estrela, igual às que algumas vizinhas recebiam! Para ela, o Natal é, até hoje, sinônimo de exclusão.
E eu, como vejo o Natal? Também tive uma infância pobre, órfão de pai que faleceu quando eu tinha apenas 3 meses de idade. Porém, tive uma mãe guerreira, que optou por continuar viúva e trabalhar para criar seus dois filhos. Nossa vida era modesta, mas, em nossa infância e juventude, eu e meu irmão tivemos o essencial para crescermos sem traumas, estudando em boas escolas públicas e convivendo com jovens das classes pobre e média. Naquela época, nas décadas de 50 e 60, só os filhos das famílias tradicionais, ricas, se fechavam socialmente em uma espécie de grupo exclusivo.
Tive meus momentos de choro indignado em alguns natais, quando acordava na manhã do dia 25, corria para o sapato colocado atrás da porta, abria o presente e me deparava com uma peça de vestuário no lugar de um brinquedo. Minha mãe não fazia aquilo por castigo, mas para dar maior utilidade à despesa em épocas de vacas magras.
Houve anos em que o presente era uma bola, uma corneta, um carrinho de plástico, um pega-vareta, etc. Não importava o tipo; eu curtia aquilo como um cãozinho cuidando do seu osso, só abandonando quando o brinquedo ficava imprestável. E como os brinquedos aguçavam a criatividade! A criançada da vizinhança compartilhava brincadeiras com os presentes recebidos. Carrinhos desfilavam puxados por cordões, o toque da corneta conduzia o pelotão mirim em marcha, a bola servia para o “baba” nos passeios, sem goleiro, e assim por diante.
Infelizmente, hoje em dia, as crianças não fazem questão de brinquedos. Se ganham, logo enjoam, abandonam e voltam para os vídeos ou jogos do celular.
Nem só o presente natalino me agradava. Até hoje, adoro o clima de festa do Natal, com suas músicas, luzes, árvores bem decoradas, mensagens de amigos e até de quem não conheço. Pena que quase não existem mais presépios para se admirar através das janelas.
Concluindo: respeito o sentimento negativo sobre o Natal manifestado pela cronista citada anteriormente, mas tenho opinião contrária. Além de tudo o que foi dito, essa data, que celebra Jesus Cristo, inspira fraternidade entre as pessoas e propicia encontros familiares cada vez mais raros.
No início da Primeira Guerra Mundial, soldados alemães e ingleses se enfrentavam entrincheirados a curta distância. No dia 25 de dezembro, espontaneamente, suspenderam o combate, e cada lado passou a cantar músicas natalinas. Como o enfrentamento era cara a cara, na base do fuzil e da baioneta, era perfeitamente possível um lado ouvir o outro. Conta a história que os alemães avisaram aos ingleses que sairiam da trincheira propondo uma confraternização. Assim foi feito, com troca de produtos que cada lado dispunha. Passado o dia de Natal, voltaram aos combates.
Nada mais precisa ser dito sobre a magnitude do Natal.
O autor é engenheiro agrônomo aposentado e escreve regularmente para este site.