Por Causa da Mulher

 Por Paulo Dias 


É contra o espírito olímpico qualquer tipo de divisão ou segregação; a humanidade é tomada como uma universalidade, e assim deve ser. Observem que a “lacração” ficou de fora, exceto por uma leve alusão gay-queer na Santa Ceia, durante a abertura. Também houve a proibição de manifestações religiosas, chegando ao ponto de vedar qualquer tipo de agradecimento a Deus, a Alá, etc. Rayssa Leal, bronze no skate street, quebrou a regra falando em Libras. Rebeca Andrade também mencionou Deus, e o tenista medalhista de ouro, Novak Djokovic, exibiu o crucifixo que usava em uma corrente.


Agora que tudo passou, em uma festa de culto ao corpo, à saúde e à superação que durou 17 dias, podemos ressaltar dois fatos: as mulheres brasileiras foram as principais responsáveis pelas 20 medalhas que conquistamos, e o pódio de mulheres negras no solo da ginástica artística, com Rebeca Andrade no primeiro lugar. Ainda que o bronze tenha sido contestado e acabe ficando com uma romena branca, a foto representativa ficou marcada.


Foi bonito de se ver. Este meu comentário não é uma tentativa de “lacrar”, pois considero que a luta pela igualdade na diferença pertence a toda a sociedade. Desde o movimento hippie, temos dado passos nesse sentido. Essas bandeiras foram espertamente apropriadas pela esquerda, mas afirmo que o feminismo de esquerda tem muito pouco a ver com isso; grande parte se deve à luta pela liberdade feminina e pela igualdade racial de forma difusa em toda a sociedade. Havia mais mulheres do que homens na delegação brasileira, um total de 274 atletas, e as três medalhas de ouro que conquistamos foram fruto do esforço delas: Rebeca Andrade na ginástica artística, Beatriz Souza no judô, e Ana Patrícia e Duda no vôlei de praia. Quatro das sete medalhas de prata também foram para o peito feminino.


O Brasil conquistou 20 medalhas ao todo (3 ouros, 7 pratas e 10 bronzes) e ficou na vigésima colocação no ranking olímpico. A quantidade de ouros foi muito menor do que nas Olimpíadas do Brasil e de Tóquio, quando conquistamos sete medalhas douradas, e em Atenas (2004), com cinco ouros. Foi a segunda melhor pontuação em número de medalhas, perdendo apenas para Tóquio. Contudo, interrompe um ciclo de crescimento iniciado em Pequim (2008) com 17 pódios.


Além disso, tivemos a hipocrisia de Macron exposta com as águas do rio Sena poluídas, enquanto ele posa de ambientalista mundo afora, defendendo a Amazônia e tudo o mais. Tivemos duas medalhas no atletismo: uma de prata na marcha atlética com Caio Bonfim e um bronze com Alison dos Santos, nos 400 metros com barreira. O baiano Isaquias Queiroz conquistou a prata na canoagem, tornando-se o segundo maior medalhista olímpico do Brasil, atrás de Rebeca Andrade. O canoísta agora soma um ouro (Tóquio-2020, no C1 1000m), três pratas (Paris-2024 no C1 1000m e duas no Rio-2016, no C1 1000 metros e C2 1000 metros) e um bronze (Rio-2016, no C1 200m).


Rebeca Andrade ostenta seis medalhas: 2 ouros, 3 pratas e 1 bronze. É a segunda ginasta do mundo, ficando atrás de Simone Biles por esta ter maior número de medalhas. Tecnicamente, hoje disputam em pé de igualdade, com Biles realizando execuções mais difíceis e Rebeca apresentando melhor qualidade nas performances. Os números são animadores, as conquistas são exemplares, mas não podemos usar isso como um tapume para esconder a inacessibilidade ao esporte que existe no Brasil, que foi tema do meu último artigo.


Veja as medalhas e os medalhistas por categoria:


Ouro


Beatriz Souza - Judô, +78kg

Rebeca Andrade - Ginástica Artística/Solo feminino

Ana Patrícia e Duda - Vôlei de Praia


Prata


Caio Bonfim - Atletismo - Marcha Atlética

Willian Lima - Judô /66kg

Rebeca Andrade - Ginástica Artística Individual Geral

Rebeca Andrade - Ginástica Artística/Salto

Tatiana Weston-Webb - Surfe

Isaquias Queiroz - Canoagem Velocidade/C1 1000m

Brasil - Futebol Feminino


Bronze


Larissa Pimenta – Judô 52kg

Rayssa Leal - Skate Street

Brasil - Ginástica Artística - Disputa por Equipes - Rebeca Andrade, Flávia Saraiva, Jade Barbosa, Júlia Soares e Lorrane Oliveira

Brasil - Judô - Equipes Mistas - Beatriz Souza, Rafaela Silva, Larissa Pimenta, Ketleyn Quadros, Daniel Cargnin, Rafael Macedo, Léo Gonçalves, Guilherme Schimidt, Rafael Silva e Willian Lima

Bia Ferreira - Boxe 60kg

Gabriel Medina - Surfe

Augusto Akio - Skate Park

Edival Pontes “Netinho” - Taekwondo - 68kg

Alison dos Santos - Atletismo - 400m com Barreiras

Brasil - Vôlei Feminino

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